segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Canto da Cigarra


Tenho tentado decifrar ao longo desses anos - mais de 25 -, o porquê de Simone estar tão impregnada em minhas trilhas sonoras; e a resposta que me vem, nada mais é que um silêncio sinfônico estrondeante. Às vezes, chego a pensar que um artista sofre a mitificação pelo processo contínuo de supervalorização de seu trabalho - e como sofre. Muitos outros são endeusados não só pela mídia, mas também pelo excesso de roupagem que lhe dão. Simone, por exemplo, é uma artista que transcendeu a esses quisitos de imagem, e se tornou exímia por sua voz. Dona de um acorde grave e visceral, mesclado com seu carisma e sensualidade, ela tem se firmado com eminência na nossa tão decaída MPB, produzindo discos e shows impecáveis. Aos 60 anos de idade - e 37 de carreira -, consegue demostrar no palco que o artista amadurece junto com seu público, e que a simetria formada entre a plateia e ela faz com que o show seja radiante de luz e felicidade. Ela já se firmou no cenário musical, não somente com seu "Começar de novo", mas com suas temáticas românticas e intrísecas sobre o amor e a paixão.
Quando ouvi Simone pela primeira vez, pareceu-me algo tão extraordinário - tal qual pareceu ao mundo a chegada do homem à lua -, poeticamente falando. Formou-se um rio em minha face e a sonoridade de seu canto adentrou minha alma, floresceu lótus em meu deserto... alagou o meu sertão. Nunca mais consegui me desvencilhar de suas melodias. E confesso que tenho aprendido muito com elas. Foram tantos os momentos marcados por esta voz, desde "Você é real" - minha primeira trilha sonora destinada a um romance - até "Migalhas" - último fragmento de uma paixão - sempre fiz escalas em suas canções, como se eu quisesse sempre voar, ou - como diz a letra de Vander Lee - estivesse sempre "Esperando aviões".
Vem aí - com lançamento em setembro - mais um DVD acompanhado de um CD Ao Vivo, gravado lá em Recife, do Show "Em boa companhia". Tive o privilégio de assisti-lo por duas vezes, no "Rio/Canecão" e aqui em "Poa/ Sesi". Esse show "Em Boa Companhia" marca o lançamento de seu novo disco, Na Veia. Estavam no roteiro as doze canções do CD, além de sucessos e canções nunca cantadas pela Cigarra, como Perigosa, sucesso das Frenéticas. Simone comoveu o público que lotou o Canecão e também o Sesi ao interpretar, de seu repertório, a canção Face a face. Outro grande momento do show foi o encerramento, com uma versão intensa e quase à capela de Chuva, suor e cerveja. Já no bis a cantora - que impressiona pela elegância e beleza - trouxe à cena Martinho da Vila, que estava na plateia, e dividiu os vocais com Simone no samba Canta canta minha gente, lá no Canecão, porém, aqui em Porto Alegre, fez um belíssimo encerramento com Ex-amor de autoria do próprio Martinho.
Para mim, fica a certeza de duas coisas: meu eterno amor por Simone e sua arte e a emoção registrada do primeiro encontro. Depois disso, compreendi porque Simone é a mais completa cantora brasileira: porque ela exibi o carisma das grandes estrelas, grande na voz, imensa na emoção com que se entrega às músicas, ao espetáculo e, em consequencia, ao seu público. Posso afirmar que, a partir de agora, tudo que vier vem bem. Claro, não tem como a gente resistir ao olhar profundo de alguém que a gente ama, por isso "Olhe bem nos olhos da morena e veja lá no fundo
a luz daquela primavera..."


Eis o tão esperado trabalho dela...

Nenhum comentário:

Postar um comentário